O CINEMA ONTEM E HOJE


S
e pudéssemos encontrar uma maneira mais cativante, chamativa ou permanente de abordar qualquer assunto valeria à pena investir nesta novidade?

O Cinema foi inventado ao final do século XIX, bem ao apagar das luzes, como resultado de certas descobertas, aspirações e sonhos. Seu desenvolvimento constante se deveu igualmente a fatores tecnológicos e históricos igualmente relevantes. Enfim a biografia do Cinema pode ser facilmente encontrada com nomes e detalhes técnicos mais facilmente na web hoje do que nas antigas e congeladas ( mas também boas e importantes ) enciclopédias. 

O que falarei aqui é exatamente o que se deixa falar sobre esta importante, nova e mágica instituição e linguagem que é o cinema. Muitos pensam no cinema como simples e reles entretenimento e estão tão errados quanto quem faz o comentário infantil acerca de um determinado filme dizendo que o tal filme "é muito mentiroso". Mas afinal o que é mesmo este tal de "cinema "?

A palavra "cinema" vem do grego e significa literalmente "imagem em movimento" mas modernamente a usamos com um destes três significados:

"Cinema": o prédio ou a sala ou o espaço especialmente construído ou até mesmo improvisado para se projetar um filme. Quando alguém diz:" vou ao cinema" é exatamente isto que está em mente.

"Cinema": o próprio filme. Quando alguém pergunta: você prefere teatro ou cinema? tanto para quem pergunta ou para quem responde a ideia é de que cinema no caso é o próprio filme.

"Cinema" a linguagem, a maneira singular de se abordar, de se falar acerca de qualquer assunto, com sua própria gramática, liturgia, tradição e modo de se fazer. Nos referimos neste caso "a uma linguagem cinematográfica", em uma maneira de se fazer um filme e de se ver e de se compreender um filme em todos os seus aspectos mais sutis.

O Cinema como espaço material hoje é concebido para que o espectador tenha o mínimo de interferência ao ver e ao ouvir o filme. O espectador pode ter toda a sua atenção no filme e se debruçar em todas as suas camadas de abordagens e sugestionamentos e dialogar com a peça filmada.

O Cinema como filme é uma peça material e imaterial ao mesmo tempo. Como pela material é um filme, objeto, em acetado ou digital e como obra imaterial é uma expressão intelectual de uma ou de várias pessoas, profissionais da industria do cinema ( ah! sim há ainda o cinema como indústria, poderosa, rica e influente social e comportamentalmente ), de um cineasta ou antes de um roteirista e antes ainda de um autor de um livro, novela, etc.

Já o Cinema como linguagem possui suas singularidades, algumas históricas e fruto de acasos, possui sua gramática difícil, as vezes questionável mas que se impõem como em toda língua ou linguagem como tendenciosamente como "certo" e/ou "errado". É impossível ( e isto e verdade ! ) avaliar-se perceber o valor e a riqueza ( ou não ) de toda uma trabalhosa obra cinematográfica sem reconhecer-se minimamente as entranhas ou complexidades impostas e necessárias a qualquer filme. 




O Cinema nasce como simples e raso documentário desprovido de cor, de som, de roteiro explícito embora implícito e que logo a seguir se descobre a necessidade e a possibilidade de deixar de sê-lo e se assumir definitivamente como arte.

Embora hoje ainda se mantenha como gênero documentário entre outros gêneros o cinema hoje se impõe como o grande e máximo e único grande contador de estórias universal ( "estórias" com "e" mesmo como "story" no inglês em oposição a "history", o primeiro como narrativas puramente livres e o segundo com a proposta de ser minimamente verdadeira) .

Se para professores de português esta diferença não se faz importante ela se faz necessária e plenamente obrigatória do ponto de vista e da perspectiva de se ver a arte e suas linguagens como exatamente devam ser vistas. Ao cinema como nas várias linguagens da Arte não se deve exigir exatamente uma "fidelidade", uma "verdade", pois não fazem parte da Arte o compromisso com alguma verdade no sentido mais real ou apropriado: a Arte pode e se dá o luxo sempre de "mentir". Não procure jamais a Arte como fonte de verdade mas como possibilidade, tanto possibilidade prováveis como totalmente improváveis.

Daí a possibilidade boa, gratificante de se ver e compreender qualquer filme: o tocar no assunto, na elasticidade de abordar um assunto, os prováveis e igualmente improváveis pontos de vistas e projeções da mesma realidade. 

As pessoas pensam em filmes como algo que compulsoriamente tenha que nos agradar. Claro que é muito mais difícil de se assistir um filme com o qual não se tenha a mínima empatia estética, narrativa ou técnica mas se a proposta é se debruçar criativamente sobre  um tema, qualquer que seja, o gostar ou não gostar de um filme é o que menos conta. Inclusive um bom assunto, tema, temática, pode e muitas vezes é explorado em refilmagens como o caso do Titanic, a vida e milagres de Jesus Cristo e tantos outros. Novas abordagens, novo ritmo, nova fotografia, novos planos tudo faz de uma mesma narrativa uma narrativa nova e diferente que deva ser investida como um novo expectador.

Para a feitura trabalhosa e cara de um filme contradizendo um certo afamado e falecido cineasta brasileiro que afirmara que para "fazer um filme basta uma câmera na mão e uma ideia na cabeça" concorrem hoje, modernamente, incontáveis profissionais especializados e cujo trabalho é espensivo, caro, por razões diversas, desde estritamente técnicas como promocionais. Desde pequenas produções ( por tempo de exibição ) até longas é muito caro e trabalhoso, demorado e de uma alta exigência técnica. Comece pagando e muito e bem antes de ter alguma "ideia na cabeça"!

Logo bem antes de decidir-se se fara um filme ou se escreverá simplesmente um livro, faça as contas, decida-se que público, que pessoas deseja realmente atingir e que suas elucubrações as alcance realmente. Entretanto e finalmente um filme atinge simuntaneamente sem modificações, a mesma obra, pessoas de culturas diferentes, de estratos sociais e econômicos diferentes, etnias diferentes, crenças diferentes e de modo que cada um extrai, apreende, se diverte se não com o todo da obra com camadas existentes na própria obra. Deste modo por mais "didático" que seja um filme sempre encontrará como resposta variável mas impactante a emoção e o seu lado real de ser um entretenimento, captado pelos sentidos visão e audição e plantados quase que definitivamente na memória, seja coletiva ou mesmo na memória individual.



Uma questão importante a ser discutida criticamente é se um filme ou qualquer animação pelo seu atrativo de imagem em movimento e som, pode ser visto como uma entidade transmissora de uma verdade. De fato como toda linguagem da arte ou linguagem artística é cooptada por quem patrocina, paga ou incentiva e se rende aos interesses, ativismo e mensagem pretendida que se chegue as pessoas. Na prática qualquer ideia, ideologia, crença ou posição política pode ser defendida e enfatizada suas pretensas qualidades ou "verdades" derrubando argumentos em contrário. Portanto é inocente tomar como argumentação final e definitiva qualquer que seja um filme ou produção audiovisual. É mais agradável, pelo menos para a imensa maioria das pessoas, assistir um filme sobre qualquer tema, do que ler um livro sobre o mesmo assunto e abordagem. O que se deve ter é a consciência da limitação ou da própria natureza tanto da própria linguagem artística como dos interesses dos autores, dos produtores ou dos patrocinadores de uma produção cinematográfica. Deixar de ver? alienar-se? não. Apenas ver pela ótica e perspectivas maximamente corretas.

Desenvolvido desde o final do século XIX, atravessa o século XX chegando ao século XXI quase que esgotada todas as possibilidades, tanto roteirísticas como temática, seguindo em constante aprimoramento, apenas os aparatos tecnológicos, agilizando e tornando plasticamente mais belo o resultado tanto em termos visuais como de sons.




Helvécio S. Pereira
Graduado em Desenho,Plástica e História da Arte pela EBA/ UFMG
Graduado e Licenciado em Pedagogia pela FAE/UEMG


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