A LIBERDADE NA ARTE: A ARTE É REALMENTE LIVRE? AULA 007


Há dois anos  me envolvi em uma situação inusitada: vindo das aulas do turno da tarde em uma das escolas que dou aulas de Artes para dezesseis turmas, ao passar defronte do Palácio das Artes, no centro de Belo Horizonte, dois grupos se degladiavam entre gritos, bordões e xingamentos.

Tudo resultado de ampliações irresponsáveis da imprensa e da mídia ignorante ou desonestamente tendenciosa em torno de recentes exposiões "artísticas" bancadas por um grande banco e entidades municipais, a custa do erário público.

Parei na calçada e passei a conversar e argumentar amistosamente com duas jovens saidas das aulas no próprio Palácio das Artes, uma bailarina e uma musicista, chegando logo após um estudante de direito, também jovem interssado no assunto. De repente uma senhora de mais ou menos cinquenta ou sessenta anos grita próximo a nós: " A Arte não o deve ser amordaçada! A Arte é livre! eu sou uma artista!"

Convidada a argumentar no nosso debate longe da balbúrdia, ela se recusa a discutir e eu ao fazê-la uma pergunta cuja resposta desmontaria seu passional argumento ela se retira desesperada bradando mais alto ainda: " Não estou em uma prova! não estou em uma prova!" indo rapidamente embora!

A Arte e artistas são reamente livres? podem dizer, desenhar, cantar, o que realmente querem diante de quem for e contra o que for?

A resposta sóbria, real, é NÃO! Não é livre e o artista não pode agir assim!

E não são necessárias, leis aprovadas em lugar algum ou punições como multas e prisões! o penssar do artista é livre, como o pensar de qualquer ser humano, mas deve haver em pessoas sadias mentalmente dois filtros, o seu próprio "ide" e o filtro socio-cultural da sociedade em que está inserido. Como já disse o grande escritor mineiro radicado à época no Rio de Janeiro, onde faleceu: "Dizer toda a verade é como andar nu"! Todo artista deve ser responsável pelo que expressa na sua Arte e que consequências boas ou más dela resultarão.

A verdadeira Arte não é um exercício irresponsável.

Se viajarmos pelo mundo e voltarmos no tempo em diversas épocas e culturas completamente diferentes entre si,  veremos que da tribo à nação mais tecnologicamente desenvolvida e intectualmente mais avançada, há regras não escritas, leis não feitas, referentes ao que dizer, como dizer, a quem dizer e como dizer. Essas regras são universais!

Em todas as cultura há o que é terminantemente proibido de dizer diante ou à crianças; à mulheres, a idosos e às pessoas, indivíduos ou às instituições daquela cultura, nação ou país!

Embora cristãos e judeus comprovadamente pensem algo contrário a fé muçulmana e muçulmanos do mesmo modo, uns desmentindo teologicamente a crença do outro, não é educado, "politicamente correto" gritar essa discordância de forma ofensiva, publicamente,  ou fazer piadas desrespeitosas, grosseiras e até pornográficas.

Da mesma forma desaforos contra à família real britânica, contra o presidente chinês ou o príncipe da Arabia Saudita; contra o Papa e contra a Igreja Católica Romana ou à Igreja Mórmom, por exemplo, são caracterizados como desrespeito ostentoso! vale para qualquer instituição religiosa ou crença alheia!

Não se pode então discordar e confrontar nenhuma instituição ou pensamento?


Sim, se pode e se deve! mas em outra categoria e espaço de debate: o debate e argumentação teológica; a investigação e denúncia histórico-científica, etc.

Não cabe ao artista conciente a presunção de se colocar como alguém acima das demais instituições e indivíduos da sociedade.

Infelizmente, artistas têm se colocado nesse papel temerário e patético falsamente impulsionados por uma "liberdade" que nem é tema de debate razoável.

As grandes obras universalmente reconhecidas são trans-religiosas, trans-culturais e trans-ideológicas e se caracterizam por dois elementos aparenteente diamentrais e opostos: universalidade e individualidade.

Turistas ateus se deslumbram com a Capela Cistina, do mesmo modo cristãos não católicos; muçulmanos se maravilham com o momumento do Cristio Redentor, não budistas com o Buda Gigante na China ou com os pagodes, espécie de belos templos religiosos orientais... ou mesmo com monumentos religiosos de religiões e deuses não cridos modernamente, como ruinas de antigos templos gregos e romanos, ou mesmo as famosas Pirâmides do Egito.

Artistas, portanto, ao contrário de ofender, blasfemar, desconstruir valores consagrados pelo tempo e pelas culturas, podem e devem se concentrar e produzir arte que eleve a nossa consciência de humanidade e que acrescente positividade a tudo que penosa e demoradamente conseguimos com muito fardo e desacerto, construirmos.

A crítica, que também pode haver, portanto, deve ser moderada pela responsabilidade de cada um de nós! antevendo os resultados dessa própria crítica!






Professor Helvécio S. Pereira
graduado em Desenho e Plástica e História da Arte pela EBA/UFMG
e Pedagogo pela FAE/UEMG

 
 

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